sexta-feira, 22 de julho de 2011

Achei triste o uso das reticências

Dia desses externei uma coisa que já tinha pensado, e sobre a qual já tinha chegado à conclusão há algum tempo... Conversei sobre a forma como as coisas findam.
Aos nove anos, fiz uma amiguinha em uma situação peculiar. Na época em que conseguir uma linha telefônica era luxo, também era moda criança passar o dia pendurada no telefone dando trote. Ligava para um número qualquer e, onde caísse a ligação, aplicava o trote do carro gelo, da família Pires, e por aí vai. Um dia, a Jordana ligou pra minha casa e ficou passando trote. Os trotes eram tão engraçados e ela era tão figura que começamos a conversar e ficamos amigas: amigas de telefone. Passamos a nos ligar diariamente, a nos escrever cartinhas – na época, também se escrevia carta, comprava-se selos e se postava no correio... sim, tenho rugas. Não lembro do exato dia em que não nos ligamos e, daí em diante, que passamos a não nos ligar mais, nem a escrever em papel de carta perfumado uma para a outra... E o tempo passou. E a Jordana passou.
Na mesma época, eu tinha uma amiga muito querida, que morria de ciúmes desta minha relação telefônica! Sempre que nos perguntavam se éramos irmãs (porque andávamos sempre juntas), nós dizíamos: “não, somos vizinhas, colegas e amigas”. Resposta completa. Foram anos de convivência não somente entre nós duas, mas entre nossas famílias. E, mesmo com a distância que a “adultice” às vezes traz em relação às pessoas queridas, foram anos ainda compartilhando fases da vida por telefone, por e-mail, por visitas cheias de saudade. O tempo passou, ela casou, teve filho... Paramos de nos ver, de nos falar. Não sabemos mais do quotidiano uma da outra, não sabemos mais dos medos, das conquistas, dos problemas, das alegrias. E a vizinha-colega-amiga também passou.
Não sei dizer se sou amiga de todos aqueles a quem um dia chamei assim. Não deixei de gostar de ninguém, mas as circunstâncias, o tempo e a forma como a vida passa por nós, por muitas vezes, me fazem pensar o que determina o momento em que “decidimos” não mais partilhar nosso “eu” com outra pessoa. Não deixamos de gostar, apenas deixamos...
Perdi as contas de quantas vezes saí com alguém e pensei que ficaria mais tempo com aquela pessoa. Não me refiro necessariamente a namoro, porque hoje em dia se tu falas que sentes saudades, pronto: já pensam que estás com o tipo de papel dos convites de casamento encomendados! Como se não houvesse mais espaço para o afeto despretensioso. Não. Não falo necessariamente de namoro, mas de um período bom o bastante para sair com alguém e saber se essa pessoa te faz bem. Se vocês se fazem bem.
As conversas boas, a companhia agradável, bom humor na relação (imprescindível), mesma fase de vida, boa química... Simplesmente bom. E não sei dizer, na maioria dos casos, o que determinou o momento em que cada um de nós foi para lados diferentes. Tem o fenômeno do “nojinho”, que mais cedo ou mais tarde vai bater à tua porta: ou tu vais pegar nojinho de alguém, ou, acredite, este alguém vai pegar de ti (ou tu achas que só tu vês defeitos nos outros?). Mas, em muitos casos, não é isso que acontece: nenhuma briga, ninguém usou palavras ríspidas, não houve demonstração de cobrança, vocês não começaram a sair com outras pessoas. A distância apenas veio. Pessoas que compartilharam momentos extremamente íntimos e bons apenas deixam de se falar e se tornam estranhas. As pessoas passam.
Acho isso triste.
Já pensava nisso há algum tempo, mas esses dias, ao falar em voz alta pra outra pessoa e pra mim mesma, achei mais triste. A palavra pronunciada teve mais peso do que a palavra pensada. Percebi que certas situações tem um ponto final que, de alguma forma, te reconforta mais, por saberes o início, o meio e o fim de tudo. Principalmente por poderes enxergar, com clareza, o fim. Outras situações apenas te apresentam reticências.
Algumas coisas terminam. Outras, simplesmente acabam...

A maneira mais alegre que eu já vi para se cantar um clássico triste.

Um comentário:

  1. Fer, adorei ler teu blog! Continuas escrevendo maravilhosamente bem!
    Bjs Simone

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