segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Como não amaciar o ego de uma mulher

No carro:
- NOOooossa, é ducarálhu ficar contigo!
Ela, muito triste pelo carro estar em movimento, adia os planos de se jogar pela janela e olha fixamente para frente, com um sorrisinho madeira, achando melhor acreditar que a frase foi um elogio.
No restaurante, antes da sobremesa:
- Tu é mais do que bonita. Gosto muito de ti como pessoa, tu é muito gente!
Ela, muito aliviada por ter alguém ao seu lado que não a aprecie como um picles, apenas pede a conta.
Na cama:
- Nossa, que cintura fina! Tirou uma costela?
Ela, frente à tamanha expressão de carinho, sente-se à vontade para eliminar um pequeno e silencioso flato, como prova de gratidão. Vingança também é um prato que se come em silêncio.
Em frente ao espelho, antes de sair para a festa:
- Nossa, que cabelão comprido! Mais um pouco e vira freira, ein?!
Ela, subitamente, tem cólicas inexplicáveis e resolve ficar em casa naquele dia. Na casa dela.
Ao telefone, depois da praia:
- E então, se torrou no sol?
Ela, feliz por ser comparada a uma galinha de vitrine, desliga o telefone e depois diz que estava entrando no túnel. Sim, na praia. Um túnel. Na praia. Ah, sabe como é... as ligações caem.
Após o banho, em frente à televisão, vendo um filme com a Julia Roberts:
- Gosto de mulheres assim, naturais, com o rosto limpo. Tu também estás de rosto limpo sempre, né?
Ela, preocupada em estar sempre impecável para ele, com seu rímel curvador, seu creme iluminador e seu corretivo hidratante, sente-se muito feliz por ser entendida como ela realmente é, por dentro e por fora.
Moral da história: a auto-estima das mulheres é moldada pela paciência, compreensão, ira contida e por desejos reprimidos de cometer atos criminosos inafiançáveis.



E depois de tudo isso, uns bons tratamentos estéticos, que ninguém aqui veio a passeio, bem!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

No divã

Cada vez mais as pessoas caminham para as consultas com psiquiatras, psicólogos, psicoterapeutas espirituais, pedagogos astrais e o raio que o parta, por várias razões: porque a manicure morreu, porque a mãe é controladora, porque o rolo do mês não deu certo, porque a fome no mundo é alarmante ou simplesmente porque é moda entre os amigos. De qualquer forma, pagar por 1h quando na verdade o atendimento dura de 40 a 50min. vem sendo reincidente nesta sociedade contemporânea.
E mesmo diante de um acordo velado de roubo (vamos chamar assim a diferença entre o pagamento e os minutos a menos de atendimento), nem sempre se sai satisfeito do divã. Pergunto-me, fazendo uma recuperação dos meus dias pregressos junto aos meus analistas – sim, foram muitos, e daí?! – por que raios eles nunca dão as respostas?! Poxa vida, já sou roubada em minutos, tenho que fazer todo o esforço de verbalizar coisas desagradáveis, gastar tempo do meu dia pensando em como contar de forma convincente as coisas pro tal do terapeuta ficar do meu lado da história, pra no final ele olhar bem sério pra mim e dizer: - huuuuummm... e o que tu achas disso? Porra, se eu soubesse o que pensar disso, não pagaria alguém pra me dar a resposta, amigão! Quanto tu queres que eu te pague pra me dar a resposta, ein?! Quanto? Quanto mais eu tenho que pagar?! É dinheiro o problema?!
Outra coisa absolutamente nonsense em relação aos analistas é a forma da impessoalidade que eles tentam imprimir na relação paciente-médico. Meu último psicólogo fez o papel de paizão pra mim nas consultas, obviamente percebendo a necessidade que eu tinha de suprir esta relação pai-filha naquele momento da minha vida. Enfim, óbvio que eu nutri um enorme carinho por ele ao longo dos meses de atendimento. Quando me dei alta do tratamento, o período coincidiu com minha formatura na faculdade. Fiz um convite toooodo cheio de dedicatórias e: ele não apareceu. Pior: passava por mim na rua e nem me cumprimentava! Que tipo de pai é esse?! Digo... de psicólogo?!
Mas o que mata mesmo nas consultas é o silêncio. Pagar o preço de 1h cheia por 40min de atendimento, até vai. Ser abandonada pelo pai psicólogo sem mais nem menos, tudo bem, também passa... Agora, o silêncio durante uma consulta é de f*** o c*** do palhaço! Por que raios um ser humano com curso superior pensa que eu gosto de pagar os tubos pra entrar numa sala, sentar e ficar ouvindo o som do na-da! Pelamordedeus, puxa uma conversa, dá um norte pra proza, conclui a novela quando eu terminar de narrar! Mas nããããão: vamos deixar que ela mesma desenvolva o raciocínio e o pensamento crítico sobre os fatos... Queridão: eu não estoooouuuu te pagaaaando para desenvolver meu raciocínio crítico! Não há tempo pra isso em 40 minutos semanais!
É por isso que hoje em dia eu pago TV a cabo e vegeto na frente da televisão assistindo: Celebrity Rehab, Jersey Shore, Papo Calcinha, Ratinho e Falando de Sexo com Sue Johanson. Se for pra ficar insatisfeita, ao menos pago um preço mais em conta sem precisar sair de casa, e de lambuja constato que não sou tão anormal assim.