sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Festa em família: diversão tão garantida como arrancar um siso

Aaaahhh, o verão... é também época de Natal, aqui para nós, latinos. Aqui para mim, integrante da Família Buscapé, é tempo de encontros consangüíneos. Por essa época já me preparo psicologicamente.
Escapo-me dos encontros familiares mesmo nos aniversários, nos churras de final de semana, nos almoços pré-morte de algum tio mais velho, mas final de ano não tem jeito: é festa na lage.
Muita criança ranhenta correndo com material de construção na mão, cachorros de todas as raças em si mesmos ao redor da mesa e atacando loucamente cada convidado que chega, pessoas que tu supões serem teus parentes brotam, não se sabe bem de onde, em ordas... e a comilança, claro: - serve mais um pouquinho, minha filha, tá tão magrinha, come, come!!
Quando a nanotecnologia servir para leitura de pensamentos, não mais terei família, pois na primeira reunião meus parentes irão sangrar até a morte devido ao rompimento dos tímpanos, causado por meus gritos de horror durante as horas que se passam nas comemorações Dó-Ré-Mi. Meus pensamentos costumam ser meus únicos amigos nesses dias “festivos”. Não creio que nenhum amigo do mundo físico queira me acompanhar na empreitada, mas já pensei em usar o artifício para espantar uns caras aí... É de se levar em consideração.
Não sei por qual motivo, mas pessoas da nossa família parecem ter um repertório feito, decorado, friamente armazenado no congeladorzinho cerebral deles, pronto para ser desinformado quando tu chegas à reunião familiar. Ou melhor, quando todos já chegaram e podem ouvir e compartilhar os momentos de infortúnio e constrangimento entre perguntas insolentes e respostas monossilábicas.
Por que as perguntas são sempre as mesmas? Por que aquela sua prima que não gosta de ti finge que a tua visita é a mais esperada do ano? Por que não deixam o teu tio dormir ao invés de sacrificá-lo à mesa, ouvindo as mesmas histórias de doença das tias? Por que a mãe do marido da tua prima-irmã grita tanto, sendo que ela está falando com a cunhada do teu primo, que está sentada ao lado dela?
Essas cenas gloriosas me motivam há anos a construir um repertório de diálogos que um dia ainda hei executar. Num dia em que certamente israelenses e palestinos irão chorar abraçados de felicidade pela coragem de uma destemida criatura, que do alto de seus 47Kg ousou enfrentar as tropas Buscapé.
Um dia perfeito:
Tia n°1 pergunta: - Minha filha, não vais comer mais? Tá tão magrinha, não comeu nada! Come aqui a salada de batata, com arroz, com maçã, com galinha desfiada e com figo, que a tia fez!
Resposta: - Ah, tia, na verdade eu já comi; sabe aquela hora que eu saí um pouco da mesa? Então, eu fui vomitar no banheiro. Por isso estou tão magrinha assim, vomito direto! Agora vou economizar a garganta para a sobremesa, se a sra. não se importar.
Tia n°2 pergunta: - Mas então, querida, tão bonita! Sempre parecida com a mãe. É a cópia escarradinha da mãe, tu não achas?
Resposta: - Então, tia, melhor ser um cuspe da mãe do que ser o cocô de um monte de pais diferentes, que nem os teus filhos, a sra. não acha?
 Prima n°1 pergunta: - E aí, prima, tá naquele emprego ainda? Aquele, que tu tava... fazendo... que tu faz  mesmo, prima?
Resposta: - Então, prima, ao invés de ti, que optou por não estudar, ter uma vida suburbana, trabalhar em dois empregos medíocres, casar para não ficar mal falada, engravidar por pressão da família e viver no cu do mundo, eu preferi estudar e agora dei um tempo no trabalho formal para ser garota de programa, juntar alguns milhõezinhos para depois viajar mundo afora. Te aconselho, viu?!
Primo pergunta: - Mas e então, prima, quer puxar a oração pra nós, antes de nos servirmos?
Resposta: - Não, primo, obrigada pelo convite. Sou adoradora de satã, acho que vocês não gostariam do meu tipo de oração. Mas, por via das dúvidas... tem uma cabra aí? Bode também serve.
Prima n° 2 pergunta: - Eeeee, ô prima: quando é que tu vais trazer um primo bonito aqui pra nos apresentar? Uma guria tão bonita que nem tu, aí, solteira... está na hora de nos apresentar um marido!
Resposta: Então, prima... até andei pensando nisso, mas como no ano passado eu estava dando pra vários, fiquei em dúvida sobre quem trazer, não achei justo beneficiar apenas um convidando para vir aqui nesta maravilhosa confraternização, e acabei não trazendo ninguém. E, nesse ano, como virei lésbica, não sabia se vocês estavam prontos para receber minha nova namorada, mas já que tu tocaste no assunto...

Ai, ai... sonhar não custa nada!!!

O fato é que tu é o único sem responsabilidade, sem família. Tu é o único que vive sozinho.
Mas eu não vivo sozinho; há dez anos que moro junto.
Mas por que o segredo conosco? Há dez anos sai com uma moça e não nos diz nada?! Quem é, o que faz, como se chama?
Se chama Mario. E faz Vigilantes.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Mulher cansa

Num desses posts um Anônimo-amigo me deu um conselho bem legal: “Freconilda, tenta virar homem”, ou algo do tipo. Certamente, uma das primeiras providências que tomarei ao chegar no setor de recadastramento do karma será protocolar uma petição em três vias para que eu volte como um cretino homem.
Tem coisas nas mulheres que irritam tanto! Muitas coisas! E, como pertencente à raça, para meu azar a revolta muitas vezes é vista como traição ao bando.
Que tal essa mania de ir lá consertar tudo que a outra pessoa fez, porque tem que ser do jeito dela? O dela que é certo, o dele, não. O ângulo certo é de -27°, não pode deixar o pano de louça pendurado de qualquer jeito na cozinha! Já ele: nem sabe a diferença entre pano de secar a mesa, de lavar o chão ou de secar a louça. Pano é pano! Serve, inclusive, pra juntar os cacos da garrafa de ceva que o amigo quebrou semana passada.
E que é isso que as mulheres tem de ficar guardando rancor, ein? Nossa, isso já vem programado nas células tronco das mulheres! Se uma briga aconteceu quando ela tinha 10 anos, 3 meses e 8 dias de idade, ao encontrar a coleguinha de escola no Face, hoje com seus quase 30 anos, a mulher não vai adicionar a ex-colega! Se ela lembra o motivo da briga? Não, ela não lembra. Mas ela lembra que brigaram, então, não podem ser amigas nem de Face. Ou melhor, “vamos adicionar aqui no Face, daí a gente pode bisbilhotar o quão coitada é a vida dela...” Já ele: olha, se não conhece não adiciona, e segue a vida; se lembra vagamente, adiciona e segue a vida; ou, se lembra bem lembrado, adiciona e ainda vai tomar uma ceva na esquina. Briga, que briga? Baita parceiro! E segue a vida.
Tem também aquele habitozinho asqueroso de ficar falando pelas costas. Nossa, tem mulher que não conseguiria ser sincera nem num monólogo! Abraça a “amiga”, vai no aniversário, encontra na festa e bebe junto. Mas é ir uma pra cada lado que a novena começa. Homem, não: chama de fíadapúta na cara, manda tomar no cu e arremata com um aperto de mão, que é pra encerrar o caso. E bóra tomar uma ceva ali na esquina.
E não vamos esquecer da problematização excessiva das coisas. O que é uma franja mal cortada para uma mulher? A clausura por um mês. E o que é um cabelo mal cortado para um homem? A desculpa para raspar todo o resto ou, então, para fazer uma sequência de fotos comemorativas bizarras com os amigos, ali no bar da esquina, enquanto toma uma ceva.
Às vezes eu quase acredito que os homens são seres mais evoluídos do que nós, para conseguirem nos aguentar sem praticar yoga ou meditação...

Eis o exemplo clássico de como os homens não dão a míiinima para as afetações femininas.
Eu amo esse casal! O estereótipo perfeito e atemporal das relações homem-mulher.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Como não amaciar o ego de uma mulher

No carro:
- NOOooossa, é ducarálhu ficar contigo!
Ela, muito triste pelo carro estar em movimento, adia os planos de se jogar pela janela e olha fixamente para frente, com um sorrisinho madeira, achando melhor acreditar que a frase foi um elogio.
No restaurante, antes da sobremesa:
- Tu é mais do que bonita. Gosto muito de ti como pessoa, tu é muito gente!
Ela, muito aliviada por ter alguém ao seu lado que não a aprecie como um picles, apenas pede a conta.
Na cama:
- Nossa, que cintura fina! Tirou uma costela?
Ela, frente à tamanha expressão de carinho, sente-se à vontade para eliminar um pequeno e silencioso flato, como prova de gratidão. Vingança também é um prato que se come em silêncio.
Em frente ao espelho, antes de sair para a festa:
- Nossa, que cabelão comprido! Mais um pouco e vira freira, ein?!
Ela, subitamente, tem cólicas inexplicáveis e resolve ficar em casa naquele dia. Na casa dela.
Ao telefone, depois da praia:
- E então, se torrou no sol?
Ela, feliz por ser comparada a uma galinha de vitrine, desliga o telefone e depois diz que estava entrando no túnel. Sim, na praia. Um túnel. Na praia. Ah, sabe como é... as ligações caem.
Após o banho, em frente à televisão, vendo um filme com a Julia Roberts:
- Gosto de mulheres assim, naturais, com o rosto limpo. Tu também estás de rosto limpo sempre, né?
Ela, preocupada em estar sempre impecável para ele, com seu rímel curvador, seu creme iluminador e seu corretivo hidratante, sente-se muito feliz por ser entendida como ela realmente é, por dentro e por fora.
Moral da história: a auto-estima das mulheres é moldada pela paciência, compreensão, ira contida e por desejos reprimidos de cometer atos criminosos inafiançáveis.



E depois de tudo isso, uns bons tratamentos estéticos, que ninguém aqui veio a passeio, bem!

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

No divã

Cada vez mais as pessoas caminham para as consultas com psiquiatras, psicólogos, psicoterapeutas espirituais, pedagogos astrais e o raio que o parta, por várias razões: porque a manicure morreu, porque a mãe é controladora, porque o rolo do mês não deu certo, porque a fome no mundo é alarmante ou simplesmente porque é moda entre os amigos. De qualquer forma, pagar por 1h quando na verdade o atendimento dura de 40 a 50min. vem sendo reincidente nesta sociedade contemporânea.
E mesmo diante de um acordo velado de roubo (vamos chamar assim a diferença entre o pagamento e os minutos a menos de atendimento), nem sempre se sai satisfeito do divã. Pergunto-me, fazendo uma recuperação dos meus dias pregressos junto aos meus analistas – sim, foram muitos, e daí?! – por que raios eles nunca dão as respostas?! Poxa vida, já sou roubada em minutos, tenho que fazer todo o esforço de verbalizar coisas desagradáveis, gastar tempo do meu dia pensando em como contar de forma convincente as coisas pro tal do terapeuta ficar do meu lado da história, pra no final ele olhar bem sério pra mim e dizer: - huuuuummm... e o que tu achas disso? Porra, se eu soubesse o que pensar disso, não pagaria alguém pra me dar a resposta, amigão! Quanto tu queres que eu te pague pra me dar a resposta, ein?! Quanto? Quanto mais eu tenho que pagar?! É dinheiro o problema?!
Outra coisa absolutamente nonsense em relação aos analistas é a forma da impessoalidade que eles tentam imprimir na relação paciente-médico. Meu último psicólogo fez o papel de paizão pra mim nas consultas, obviamente percebendo a necessidade que eu tinha de suprir esta relação pai-filha naquele momento da minha vida. Enfim, óbvio que eu nutri um enorme carinho por ele ao longo dos meses de atendimento. Quando me dei alta do tratamento, o período coincidiu com minha formatura na faculdade. Fiz um convite toooodo cheio de dedicatórias e: ele não apareceu. Pior: passava por mim na rua e nem me cumprimentava! Que tipo de pai é esse?! Digo... de psicólogo?!
Mas o que mata mesmo nas consultas é o silêncio. Pagar o preço de 1h cheia por 40min de atendimento, até vai. Ser abandonada pelo pai psicólogo sem mais nem menos, tudo bem, também passa... Agora, o silêncio durante uma consulta é de f*** o c*** do palhaço! Por que raios um ser humano com curso superior pensa que eu gosto de pagar os tubos pra entrar numa sala, sentar e ficar ouvindo o som do na-da! Pelamordedeus, puxa uma conversa, dá um norte pra proza, conclui a novela quando eu terminar de narrar! Mas nããããão: vamos deixar que ela mesma desenvolva o raciocínio e o pensamento crítico sobre os fatos... Queridão: eu não estoooouuuu te pagaaaando para desenvolver meu raciocínio crítico! Não há tempo pra isso em 40 minutos semanais!
É por isso que hoje em dia eu pago TV a cabo e vegeto na frente da televisão assistindo: Celebrity Rehab, Jersey Shore, Papo Calcinha, Ratinho e Falando de Sexo com Sue Johanson. Se for pra ficar insatisfeita, ao menos pago um preço mais em conta sem precisar sair de casa, e de lambuja constato que não sou tão anormal assim.


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Pensei... mas não falei

Socialmente há padrões de comportamento que, na maioria das vezes, impedem as moçoilas de transporem as barreiras do pensamento e exporem mundinho a fora certas respostas que deveriam ser ouvidas, para que certas frases não fossem mais ditas.
Frase medíocre n°1
- Te cuida.
Resposta vai-à-merda n°1
- Não. Não vou me cuidar. Sou uma compulsiva por autodestruição e, no primeiro banheiro com chave pelo qual eu passar, vou me trancar e me giletar todinha. Aliás, vou me retalhar com as iniciais do teu nome e deixar um bilhete, dizendo que a culpa pela minha morte é tua, que tal?!
Frase medíocre n°2
- Tô com uns problemas aí, não ando muito bem, vou ficar sozinho um tempo.
Resposta vai-à-merda n°2
- Cagão.
Frase medíocre n°3
- Te desejo uma pessoa muito melhor.
Resposta vai-à-merda n°3
- Porra, mas e por que não me avisaste antes que tu eras uma pessoa muito ruim?! Baita perda de tempo...
Frase medíocre n°4
- Mas e precisa mesmo usar camisinha?
Resposta vai-à-merda n°4
- Não, querido. Coloca uma ratoeira pra ver se fica mais legal. 
Frase medíocre n°5
- É... nem sei o que te dizer...
Resposta vai-à-merda n°5
- Ah, fala com a minha mão então, fofinho.


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quero ser biscate

Na próxima encarnação, porque nesta eu já sou um caso perdido.
Como cheguei a essa definição da próxima carreira a seguir? Fatos:
- Cleópatra: a rainha grega do Egito... pensa bem como foi manter esses dois títulos em um só; mas não vamos tirar o mérito: era uma biscate extremamente inteligente e estrategista;
- Ana Bolena: êta biscateira com poder, essa...;
- Mata Hari: ainda jogou um beijinho às tropas de fuzilamento antes de sua morte;
- Xuxa, rainha da pornografia: é Rainha dos Baixinhos;
- Priscila, ex-BBB: casou;
- Todas as ex do Hefner: tem um reality e uma mansão para chamar de seus;
- Smurfete: só tinha que dar pra toda vila e assim conseguia manter seu padrãozinho de vida feliz no subúrbio azul;
- Ângela Bismarchi: tem tudo quanto é cirurgia grátis (não que elas deem certo...); faltou só a do cérebro, mas é detalhe...;
- Luciana Gimenez: ganhará boa mesada pro resto da vida por ter um filho de um Stone;
- E não vou nem falar nada da Bruna...
Questiono-me se já teria sido uma biscate na outra encarnação, e por isso nessa sou tão... não-biscate!
Só sei que as admiro. Aplaudo a todas. Beleza é uma dádiva, ignorância é uma bênção, falta de escrúpulos é um dom, mas ser biscateira é atingir o Nirvana.


domingo, 28 de agosto de 2011

Refletindo e mancando

Mais difícil do que o Bolsonaro sair do armário, mais improvável do que o Roberto Carlos participar da Dança dos Famosos, mais raro do que Marina Silva depilar a sobrancelha, ou mais absurdo do que a Dilma falar com voz de criança no diminutivo, em conversa ao pé do ouvido com a Chanceler Angela Merkel. Acho que essa é a possibilidade de as pessoas estarem preparadas para ouvir a verdade sem achar que é uma afronta. Infelizmente vivemos em um mundo no qual o cinismo é bem visto e a sinceridade é um tiro no pé.
Só pra constar: meu pé tá muito furado!!!



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Manual pocket de boas maneiras

Dia do Solteiro! Sim, dia 15.
E eu, muito prestativa, em comemoração a esta data especial, venho dar minha colaboração aos solteirOS de plantão (não que os casadinhos não precisem ler...).
Então, vamos colocar ordem nesta Sbórnia! O homaredo vem alternando em um ritmo frenético a prática das boas maneiras com a bagualice, e vice-versa. Sem falar na onda de melações, que às vezes vem em ordas, num fenômeno mais ou menos parecido com o choque do ectoplasma do Geléia contra a Janine.

Serviço básico de utilidade pública:

Boas maneiras = abrir as portas (não é uma obrigação, mas demonstra que o vivente não é umbigocêntrico).
Bagualice = nem olhar pra trás para saber se a moçoila está necessitando de ajuda pra empurrar aquela maldita porta pesada do am pm (onde, por sinal, ela odeia ir; qual é a dos caras com postos de combustíveis, ein?!).
Melação = jogar-se feito o Maníaco do Parque na frente dela, sem que ela decida ao menos qual pé colocar na frente do outro antes de passar pela porta.

Boas maneiras = usar adjetivos que qualifiquem positivamente a pessoa com quem você fala (um “linda”, “gatinha”, “querida”, ou um apelido carinhoso, não faz mal a ninguém).
Bagualice = usar adjetivos que aplicarias ao teu colega de quarto, aquele mesmo que ronca e arrota contigo quando vocês viajam juntos (por exemplo, “debilóide”, “tonga”, “meu”, “cara”...).
Melação = utilizar mais de dois adjetivos no diminutivo em uma mesma frase (“oi, minha lindinha, tudo tranquilinho contigo, minha gatinha?”).

Boas maneiras = ligar ou mandar mensagem no dia seguinte.
Bagualice = entrar numa dimensão paralela e sumir, pra fazer o jogo de gata e rato.
Melação = mandar uma mensagem pela manhã, três à tarde e umas 473092038779 à noite.

Boas maneiras = elogiar a aparência dela.
Bagualice = “Bã, mas pelo menos estás bonita, ein? Depois desse tempo todo que te esperei, ainda bem que não me decepcionste!” (não, isso não é um elogio).
Melação = “Como tu estás gata” (às 21:10); “Já te disse que estás muito bonita?” (às 21:36); “Nossa, sou muito sortudo, tu és muito linda” (22:03); “Já comentei como estás bonita hoje, né?” (22:17)...

Boas maneiras = convidar para sair quando tiver vontade, sabendo que a outra pessoa, quando diz “não”, pode estar ocupada de verdade (pasmem, nem tudo é um jogo nesta vida!).
Bagualice = “Bem, eu já te convidei, depois não diz que não me apresento”.
Melação = “Ah, mas eu queria tanto sair contigo hoje! E amanhã? Tá, e daí, saímos amanhã, mas já vamos combinar o findi, então! Ah, também tinha pensado em irmos naquela festa, que vai ter dia 23...”

Boas maneiras = na primeira vez, tentar perceber qual o “estilo” do corpinho, antes de sair por aí tentando realizar todas as suas 73 fantasias eróticas no período de 3 horas.
Bagualice = “Como é que tá aí? Chegando?”.
Melação/Psicose = “Agora tu és só minha, toda minha... nunca senti nada assim, nunca mais vou te largar!”  Corra, Lola, corra!!



domingo, 31 de julho de 2011

Sonhos de uma noite de inverno

Dizem por aí que dia 15 foi o Dia do Homem. Para comprovar que não faço só mau juízo dos meus irmãos de espécie, não vou dedicar apenas um dia, mas todo o mês de julho a eles, os de Marte. Encerro o mês com esta singela homenagem.

Das tipologias masculinas: o Tipão
Certa noite dessas, cumprindo meu compromisso comigo mesma de não sucumbir à falta de vida social, fui a um desses botecos/bares/pubs da vida. Acho que ninguém acredita naquela frasesinha “só vim para dançar” ou, no caso dos pubs, “tô só pelo drink” (by Alinão). Hoje em dia, ou melhor, em noites, apenas um-noventa-e-nove-avos dos seres humanos não vão para a noite para ficar girando o pescoço em 367° feito lêmures loucos, num ritual que concretiza o popular “tiroteio”. Pois bem, faço parte deste seleto e desacreditado grupo que vai para a “night” sem pensar necessariamente em achar ali uma pantufa (agora, que o inverno medonho chegou) ou um scarpin na estica para sair desfilando por aí.
Vide companheiros de faculdade, freqüentadores do saudoso boteco Bolicho, hoje uma farmácia (se precisar de Eno, agora tem à vontade!): enquanto todos iam para lá e de lá saiam em pares já formados, Freconildas de lá voltava como chegava (ok, 86% das vezes); enquanto os demais se abraçavam nas garrafas de ceva (vendidas a módicos R$1,50!), Freconildas lá estava abraçada em sua clássica garrafa de inox, goleteando um chima veio (Carry, a estranha). Bem, nada mudou muito da graduação para cá: troquei o chimas pela água gelada (acho que serei socialmente banida se entrar com uma térmica num pub) e continuo na sociabilidade passiva, sem incorporar o estilo lêmure de ser.
Digressões à parte, naquela noite de melll delzzz, uma serelepe amiga chamou minha atenção para uma pessoa discreta. Um homem, muito próximo à nossa mesa: aquele transeunte não sabe da minha existência, jamais pensaria que habito a mesma galáxia que ele e sequer pensaria que eu o observava. Mas ele me fez querer prestar uma homenagem aos demais de sua classe, a quem agradeço pela existência...
Ele não é bonito, é um feio interessante, de traços sisudos. É a personificação da cruza dos feromônios do Zé Mayer, com os músculos do Dourado e o rosto do Gerard Butler. Ele é rude.
Caminha como se não houvesse nada à sua frente, sem ao menos mover involuntariamente as pupilas na tua direção. Ele rasga os caminhos, os demais que o sigam. Faz carinho quase que com a mão fechada, e quando abre é para puxar os cabelos da mulher. Ele não fala, mas sabe como olhar de uma forma que a mulher se sente completamente nua em público. O Tipão não abraça, puxa. Não pega no colo, levanta teu corpo como se fosse uma pena, a la Vin Diesel. Fala pouco, mas diz tudo em sete palavras. Ele não pergunta, faz.
O Tipão não sucumbiu às boas maneiras, mas uma vez a cada 91 anos, quando Vênus, Júpter e a Lua alinham-se, ele te surpreende com flores. Ok, com um botão de flor...
Este ser tosco, bruto, sério, tem um humor seco, ácido, cortante. Não ri de piadas, apenas levanta o canto da boca, em um breve momento no qual esboça simpatia pelos demais. Não dança nas festas, espreita as mulheres enquanto coloca um pé pra frente e outro pra trás – muito sutilmente. A roupa que ele usa na festa é a mesma que veste no dia seguinte para correr ou para trabalhar: ele não pensa que é uma roupa, vê apenas uma sobreposição de panos. Para o Tipão, as cores reduzem-se ao preto, branco, verde, amarelo, vermelho e azul – e “combinação” é uma palavra inexistente em seu mundo; aliás, listras e xadrez são sinônimos para ele. Ele não sabe e não quer saber o que é design. Ele nunca chorou vendo um filme. Ele não conhece os diminutivos.
Mas, vez que outra, o Tipão mareja os olhos – num esboço de choro. São raros os momentos em que é possível observar esta espécie aos prantos. Mas não se iluda, ó Nobre-camponesa-que-vai-todos-os-dias-ao-bosque-recolher-lenha: isso é apenas seu golpe final. É a parte mais afiada da lâmina de seu robusto machado: vai cortar seu coraçãozinho em milhares de farpas e, quando menos tardar, estarás apaixonada pelo Tipão. Afinal, todo mundo sabe que homem grande chorando é golpe baixo... mas a gente gosta!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Achei triste o uso das reticências

Dia desses externei uma coisa que já tinha pensado, e sobre a qual já tinha chegado à conclusão há algum tempo... Conversei sobre a forma como as coisas findam.
Aos nove anos, fiz uma amiguinha em uma situação peculiar. Na época em que conseguir uma linha telefônica era luxo, também era moda criança passar o dia pendurada no telefone dando trote. Ligava para um número qualquer e, onde caísse a ligação, aplicava o trote do carro gelo, da família Pires, e por aí vai. Um dia, a Jordana ligou pra minha casa e ficou passando trote. Os trotes eram tão engraçados e ela era tão figura que começamos a conversar e ficamos amigas: amigas de telefone. Passamos a nos ligar diariamente, a nos escrever cartinhas – na época, também se escrevia carta, comprava-se selos e se postava no correio... sim, tenho rugas. Não lembro do exato dia em que não nos ligamos e, daí em diante, que passamos a não nos ligar mais, nem a escrever em papel de carta perfumado uma para a outra... E o tempo passou. E a Jordana passou.
Na mesma época, eu tinha uma amiga muito querida, que morria de ciúmes desta minha relação telefônica! Sempre que nos perguntavam se éramos irmãs (porque andávamos sempre juntas), nós dizíamos: “não, somos vizinhas, colegas e amigas”. Resposta completa. Foram anos de convivência não somente entre nós duas, mas entre nossas famílias. E, mesmo com a distância que a “adultice” às vezes traz em relação às pessoas queridas, foram anos ainda compartilhando fases da vida por telefone, por e-mail, por visitas cheias de saudade. O tempo passou, ela casou, teve filho... Paramos de nos ver, de nos falar. Não sabemos mais do quotidiano uma da outra, não sabemos mais dos medos, das conquistas, dos problemas, das alegrias. E a vizinha-colega-amiga também passou.
Não sei dizer se sou amiga de todos aqueles a quem um dia chamei assim. Não deixei de gostar de ninguém, mas as circunstâncias, o tempo e a forma como a vida passa por nós, por muitas vezes, me fazem pensar o que determina o momento em que “decidimos” não mais partilhar nosso “eu” com outra pessoa. Não deixamos de gostar, apenas deixamos...
Perdi as contas de quantas vezes saí com alguém e pensei que ficaria mais tempo com aquela pessoa. Não me refiro necessariamente a namoro, porque hoje em dia se tu falas que sentes saudades, pronto: já pensam que estás com o tipo de papel dos convites de casamento encomendados! Como se não houvesse mais espaço para o afeto despretensioso. Não. Não falo necessariamente de namoro, mas de um período bom o bastante para sair com alguém e saber se essa pessoa te faz bem. Se vocês se fazem bem.
As conversas boas, a companhia agradável, bom humor na relação (imprescindível), mesma fase de vida, boa química... Simplesmente bom. E não sei dizer, na maioria dos casos, o que determinou o momento em que cada um de nós foi para lados diferentes. Tem o fenômeno do “nojinho”, que mais cedo ou mais tarde vai bater à tua porta: ou tu vais pegar nojinho de alguém, ou, acredite, este alguém vai pegar de ti (ou tu achas que só tu vês defeitos nos outros?). Mas, em muitos casos, não é isso que acontece: nenhuma briga, ninguém usou palavras ríspidas, não houve demonstração de cobrança, vocês não começaram a sair com outras pessoas. A distância apenas veio. Pessoas que compartilharam momentos extremamente íntimos e bons apenas deixam de se falar e se tornam estranhas. As pessoas passam.
Acho isso triste.
Já pensava nisso há algum tempo, mas esses dias, ao falar em voz alta pra outra pessoa e pra mim mesma, achei mais triste. A palavra pronunciada teve mais peso do que a palavra pensada. Percebi que certas situações tem um ponto final que, de alguma forma, te reconforta mais, por saberes o início, o meio e o fim de tudo. Principalmente por poderes enxergar, com clareza, o fim. Outras situações apenas te apresentam reticências.
Algumas coisas terminam. Outras, simplesmente acabam...

A maneira mais alegre que eu já vi para se cantar um clássico triste.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Da série tipologias masculinas: o Pouca Coisa

Sabes que estás diante de um Pouca Coisa quando pensas – ah, como eu queria o Joseph Climber aqui! Sim, porque antes um peso de papel, com uma utilidade prática nesta vida, do que um Pouca Coisa.
Nosso protagonista é bonitinho. É engraçadinho. É educadinho. É queridinho. É inteligentinho... é “inho” demais para uma única pessoa! Nada nele é “ão”. E nada nele é “nada” também, o que torna a relação de vocês extremamente difícil. Porque mesmo naqueles momentos psicóticos em que tentas achar um motivo para uma briga, perdes toda a autoridade quando ele te faz um carinho, acompanhado de um sorrisinho... Como maltratar alguém tão atenciosinho? Maldito PC, que não te deixa brigar com ele!
Ele tem tiques que, aos olhos dos demais transeuntes, passam despercebidos. Sentes um solavanco da insanidade à tua porta toda vez que perguntas o que teus amigos acham dele e tens como resposta – nossa, muito gente boa. Mas és tu, ó sofredora criatura, que convives com aquela mania dele de dizer “por causa qui” ao invés de “porque”; ou com aquele cacoetezinho que ele tem de te cutucar na boca do estômago quando estás prestando atenção em um filme... ah, Climber, bendito sejas!
Mas, ainda assim, ele te faz rir. Vocês conversam muito. Fazem boas caminhadas juntos, contemplando a paisagem, conversando, perdendo a hora... Passam horas falando, falando, falaaaando... sobre absolutamente nada que te desperte interesse em longo prazo. PC daria um bom amigo. Aquele a quem podes xingar como a um irmão, com quem podes andar sem ter a obrigação de dar a mãozinha ou fazer zoínho, aquele que procuras para sair uma, duas vezes por mês para manter o grau de sociabilidade no nível da normalidade... mas não. PC está convencido de que és a encomenda das Portas da Esperança! E ele não deixa por menos: tenta te convencer de que vocês têm (até 2012 tô usando o acento, Lula!) química.
Nas preliminares, PC faz seu papel direitinho. A finalização, como não poderia ser diferente, é o cerne do tema. O que dizer para a situação de “pouco”? Claro que PC tem desculpas na ponta da língua – isso quando as profere –, pois já é magistrado no quesito de “pouquidão”: 1. é culpa da camisinha, perco a sensibilidade; 2. está um pouco frio; 3. não estou bem hoje; 4. daqui a pouco melhora, vamos brincando; 5. tu não estás no clima, né? Esta última é para fazer até Gandhi interromper a greve de fome e sair matando boi a tapa. Após utilizar um de seus argumentos, PC diverte-se sozinho... faz tentativas incessantes para tornar-se a reencarnação de Leônidas, quando, na verdade, o que ali está não faz nem a trilhonésima fração das sombras das flechas de Xerxes! Isso! Leônidas. Vamos pensar nele enquanto isso... aquele abdômen, aquela barba, o jeito rude... Passam-se alguns minutos e retornas do teu mundo de depravação devaneio fuga distração, olhas para o lado, meio de revesgueio, PC e PC Junior estão ali, divertindo-se AINDA. “Incomodo vocês? Se quiseres, posso sair e deixar os dois a sós.” Quem nunca teve vontade de levantar da cama e perguntar isso?! Em certos momentos me pergunto se o respeito teria ficado em casa junto com a atuação favorável da gravidade. Mas o que fazer com PC?!
O fato é que com o nada nós sabemos como lidar. Para o nada o roteiro está pronto. Para o nada também já temos as respostas na ponta da língua: 1. Tudo bem, acontece; 2. Não tem problema, acontece; 3. Sem stress, acontece; 4. Não tem importância, acontece; 5. Eu sei... às vezes acontece. Agora, para a poucacoisice não se sabe ao certo o que dizer! Como diz uma amiga minha, nessas horas cabe a analogia do Danoninho: quem não gosta de um bom potinho, não é? Mas todo mundo sabe que é pouco! Agora, imagina só meio potinho de Danoninho: o que fazer com isso?!
O fato é que nessas horas de pouquidão, muitas vezes, nem se pode fazer uso das palavras, pois é bem capaz de PC ficar insultado! Não tem nada de errado acontecendo ali! Por que falar qualquer palavrinha de consolo que seja? Estás louca, mulher?!
...Esses dias achei um antigo peso de papel nas minhas coisas. Coloquei na estante para dar suporte a um livro... não lembro o título, mas abri, aleatoriamente em alguma página e li: “A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido. Não na vitória propriamente dita”. Liguei pro PC para ver como ele estava... Marcamos de sair na semana seguinte. Assistimos ao filme 300.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Toda criança é um pouco gótica

Eis minha contribuição para o dia 12.
Rafael Dias era o nome dele. No primeiro dia de aula, entrei faceira, que nem guaipeca “arrodeando” o rabo, ainda mais quando a Professora Denise disse: - mááás, e quem é essa guria de cabelão lindo?! Todos sentados, em roda, apresentando-se um a um. E ele, na minha frente – obviamente, a roda organizava-se no esquema meninas de um lado, meninos de outro. Ele, com seu cabelinho liso em corte cogumelo, narizinho arrebitado e olhar do tipo “vou crescer e dar um trabalho pra mulherada, que não vai ter nem graça”. É de pequeno que tu identificas se o guri vai ser pegador ou não. Sei lá se tem a ver com o DNA, mas tu olhas pro piá e já sabes se terá a mãnha ou não. Cá entre nós, tem uns que chegam a nos dar pena da nossa própria idade. Ai, que vontade de cultivar algumas espécies para o futuro... Abafa e foco.
Enfim, anos se passaram e seguíamos colegas. Nunca fui uma menina que só brincava com meninas, que não se sujava ou que só sentava na frente, juntinho da profe. Sempre fui amiguinha dos guris e das gurias ao mesmo tempo. Também não era daquelas que jogava futebol com os guris, que nem a Raquel da 6ª série. Mas sempre me dei bem com eles. Com o Dias (como era conhecido, já que Rafael deveria ter uns três na sala), nunca consegui estabelecer uma amizade. Mas sempre quis. Aliás, queria mais do que uma amizade: páginas e páginas do diário (aquele com a chavezinha) preenchidas com corações que abrigavam o meu nome e o dele. Choros incontidos em momentos diversos, pensando no meu amado. Noites de sono agitadas pela imagem daquele meu colega de aula, que sentava lá do outro lado da sala. Meu amadinho não era só mais um no colégio, para aumento de minha penúria: era o mais popular da série, não tinha quem não o achasse um gatinho!
Somente uma coisa separava o Dias da perfeição: torcia por um time oposto ao meu. E, para o azar dele, torcia pelo time da minoria da sala. Isso às vezes era um problema maior do que se pode imaginar: geralmente, nas partidas de futebol – em que eu e as gurias fazíamos coreografias de Paquitas para animar a torcida -, quando saía discussão, o Dias levava a pior por ser do time da minoria. Leia-se: apanhava. E eu, nunca sabia que partido tomar! Muitas vezes assisti meu amado chorando, no cantinho da sala, abrindo o potinho do lanche com aquela nega maluca, sozinho, soluçando... E eu lá, dividida entre os amigos e o amor! Ó, destino triste desta errante mirim! Mas, popular que era, o Rafa (como eu tomava a liberdade de chamá-lo às vezes, ruborizada) sempre fazia as pazes com os coleguinhas e tudo ficava bem.
Conformava-me já com o fato de que aquele semi-deuzinho jamais seria meu par. Nem deveria saber meu nome direito, era muita oferta naquele colégio, ele podia escolher. Por que escolheria a mim? Melhor ficar resignada, escrevendo no diário, sonhando, imaginando cenas romantiquinhas, enxugando as lágrimas grossas e assoando o narizinho vermelho.
Quando digo que tive uma infância feliz, parte disso deve-se também ao Dias. Certa feita, Papai do Céu olhou para baixo e disse: “tá, gótica mirim do inferno, toma o que te mandaram!”, e, não sei em que dia da semana, em que aula e nem por qual ocasião, os guris me deram a notícia de que o Rafa me considerava a namorada dele. Ah, como é bom ser amiga dos guris!
Depois daquele dia, não me lembro de ter falado com o meu amadinho, mas isso não tem importância nenhuma dentre as minhas memórias da infância: o que ficou foi a lembrança quase física do meu coração disparando, do meu sorriso incontido, da minha tentativa de controlar o riso e da caminhada até as gurias, para repartir a mais nova novidade novinha do momento! Eu tinha um namoradinho, e era o Rafa! Te mete!!
Realmente não lembro dos dias subsequentes, mas sei que o Rafa saiu do colégio antes de mim. E, apesar de sermos vizinhos, não nos encontrávamos pelas ruas do bairro. Não sei se isso configurou o término do nosso namoro, mas eu ainda fui fiel a ele por algum tempo. Depois dele, veio o Fandangos, um guri mais velho, também popular na escola, e me lembro, como se fosse hoje, da minha faceirice quando descobri que eu era a segunda na lista de preferências dele, dentre todas as outras gurias do colégio! Nossa, eu era a segunda! Só precisava matar uma e eu era a próxima na lista! Ops, acho que falei isso alto... Enfim, essa já é outra história.




Agradecimento especial à pessoa querida que me mandou este vídeo.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pensei bem e... quero ser super-heroína

Percebo alguns anseios gerais entre meus amigos cuja faixa etária equipara-se à minha: sair de casa (se já não saiu), pagar as contas sozinho, ter/manter um carro, subir na profissão, conhecer alguém especial, manter um bom relacionamento, constituir família (com os mais variados tipos de configurações), e, enfim, ter uma vida estável, podendo-se dar ao “luxo” de viajar, comer bem, ir a lugares interessantes, etc. Os anseios variam de ordem de acordo com a classe, os pilas na conta bancária, a vida afetiva... mas, via de regra, fazem parte do pacote básico do ideal de vida feliz.
Certa feita, nesses dias frescos aqui do Sul, algumas amigas e eu conversávamos sobre quem gostaríamos de ser se pudéssemos escolher uma heroína. Tentávamos lembrar os nomes, quando algumas personagens eram mais antiguinhas. Incorporamos os personagens, achamos características físicas umas nas outras para justificar a escolha, analisamos e medimos as utilidades dos poderes, contextualizamos os desenhos em que apareciam, e, por fim, cada qual teve sua heroína eleita. Fácil assim. Questão de uns 20 minutos – depois, outra pauta sentou-se à mesa conosco, naquele ritmo frenético de assuntos femininos que todos nós já sabemos como funciona.
Não entendo o que ocorre na vida real, que a torna tão difícil ante a vida das heroínas: a Shee-ra, por exemplo, era de uma família real e morava em um castelo; mas não era qualquer castelo, era um de cristal – leia-se que não precisava trabalhar, pois tinha grana, mas muita grana mesmo! Mesmo assim, ela trabalhava por gosto, e não escolheu qualquer trabalhinho: ela lutava contra o mal e, em todos os episódios, vencia o Hordak! Ela não ganhou apenas um pônei de seu pai quando era pequena: ela tinha o Ventania. Era dona de uma aparência impecável. Dava-se muito bem com seu primo gay. Todo mundo gostava dela. Podia ter dupla personalidade sem ser considerada uma bipolar. Salvava Ethéria e ainda tinha tempo para fazer as unhas!
Quando eu tinha uns quatro anos, fui personagem de um episódio histórico em família. Caí na piscina e me afoguei – em tempo, essa foi apenas uma das muitas vezes que me afoguei. Vi a morte bem de perto. Não tive medo, não tentei sair da piscina, não me passou um flash da minha breve vidinha na cabeça, não pensei nos entes e nos amiguinhos queridos, nada além do cloro nos pulmões me fazia companhia naquela hora. Salva por um familiar, após chorar, tossir, tomar banho e tentar explicar (em vão) que eu havia escorregado, e não tentado me matar, fiz um pedido bem simples à minha irmã, enquanto ela me secava após o banho: - posso usar uma roupa de Shee-ra? Ela, sem proferir uma palavra sequer, balançou a cabeça positivamente, mas me vestiu com uma roupa qualquer, uma roupa minha mesmo. Vê-se bem que era adepta da terapia do Analista de Bagé, a consanguínea...
Não discuti. Não teimei. Não pedi novamente para ser a Shee-ra. Quem sabe porque, já ali, eu tenha começado a entender que minha vida seria mais fácil se eu não tivesse que salvar um planeta todos os dias. Mas, ainda hoje, penso que talvez eu acharia mais soluções tentando salvar um mundo inteiro, do que tentando construir as coisas simples desse tal pacote da felicidade pra minha própria vida.

Minha fantasia realizada: by Lizandrinha

quarta-feira, 18 de maio de 2011

How to lose a guy... in 10 MINUTES!

Bem, os meninos talvez não liguem o título ao filme, mas com certeza 98% das amigas que lerem o enunciado já devem ter ligado o tema à comédia romântica “Como perder um homem em dez dias”. Well, mulher que se preza não demora tanto assim para perder um corpinho novo. Vamos ao caso de “M”- que, a pedido, terá sua identidade preservada.
M é uma mulher bem resolvida intelectualmente. Sabe de suas limitações (leia-se que não é uma nerd, mas também não compartilha DNA com a Geisy), mas não se micha para qualquer assunto, não! M gosta de ler, já leu uns 62,8% dos autores clássicos da literatura brasileira, gosta de história, arranha bem em alguns idiomas, versa sobre cultura geral e é capaz de opinar sobre política e economia sem que isto consista em uma verborragia. Nossa heroína tem os requisitos básicos de um ser pensante, já tendo ultrapassado o nível da comunidade lesma.
Mas M também tem seus maus dias... Contou-me, não em tom de lástima, mas de quem ri de si mesma (tamanho absurdo que havia produzido), que cometera um recorde entre suas amigas de espécie: M perdeu um corpinho novo em dez minutos. Certa feita, passeando lépida e faceira com o corpinho novo, M iniciou um diálogo que, acreditava ela, levaria seu nome aos píncaros da glória com o flerte, agregando mais pontos a sua escala de avaliação.
Aconteceu mais ou menos assim:

No carro.
Corpinho – Nossa, até que enfim, asfaltaram isso aqui! Era horrível, precisou terminar o verão para asfaltarem.
M, com seu conhecimento de causa, manteve-se quieta, para não contrariar o corpinho, na esperança de que outro assunto fosse iniciado. Mas o corpinho, certamente achando que este seria um bom assunto para ele próprio adquirir pontos na escala de avaliação com M, não se conteve com o silêncio no carro e chamou M para o debate.
Corpinho – Como é que pode, um lugar assim tão bonito, sem asfalto? Até que enfim, se deram conta. Tu não achas?
M – Olha... acho que não concordo muito contigo sobre isso...
Corpinho – Como assim?
Nesse ponto, M, sem saída, viu então a possibilidade de esbanjar em 360° sua magnitude sobre o tema.
M – Pensa bem, isso é uma praia! Nesse tipo de praia eu acho mais adequado haver calçamento. As pessoas associam o asfalto a progresso, mas o solo tem características diferentes em cada lugar.
Corpinho – Mas como assim, tu achas melhor deixar tudo esburacado?
M – Não, claro que não. O acesso tem que existir, mas o asfalto não é a solução pra tudo, ao contrário: muitas vezes é um problema!
Corpinho, quase convencido, e certamente pensando que ali se encontrava um ser pensante, achou por bem continuar o assunto.
Corpinho – Mas como assim, o que tu achas que tem que ser feito, então?
M – Pra cá, por exemplo, a solução talvez fosse o calçamento, não o asfalto. Não tenho o conhecimento técnico, mas acho que asfalto é uma solução simplista, tu não achas?
Corpinho – Hummm...
Digna de sua espécie feminina, M elevou à décima potência a importância daquele momento. Logo já pensou que ali estava um ser que já começava a se apaixonar por ela. Empolgada, engrenou no monólogo.
M – Imagina só: a inclinação da cidade converge para a praia. Se toda vez que tiver ressaca ou que os níveis de chuva forem maiores do que o normal, as águas excedentes não vão escoar para o mar, e sim para as casas e para as outras construções que estão na cidade. E o solo, como está asfaltado, irá embolsar a água, porque asfalto não tem capacidade de absorção! Então, ao invés de criar uma solução, tu crias um problema para toda a cidade!! Aparentemente uma solução imediata, mas um problemão de longo prazo: gasto público em reconstrução, drenagem, recuperação da imagem da cidade, que ficará comprometida pela falta de planejamento...
Corpinho, já um pouco impressionado, continuou o assunto. Mas, obviamente, não se dando por vencido, como é natural de sua espécie. Tentou, também ele, mostrar que podia manter uma discussão no nível intermediário do intelecto.
Corpinho – Mas existem áreas que podem ser asfaltadas e outras calçadas.
M agora pensava em dar o golpe derradeiro. Mostraria como ela, com sua facilidade de observação, conseguia perspicazmente opinar sobre assuntos diversos! “É agora”, ela pensou, “ele vai concordar comigo, não vai ter como me sair mal; aposto que ele nunca ficou com alguém tão articulada como eu”, já comemorava, rindo-se por dentro.
M – Claro, mas depende. Varia de cidade pra cidade. Aqui, por exemplo, pelo o pouco que eu vi, não sei se é o caso de colocar asfalto em lugar algum! Tu por acaso já percebeste que aqui não tem condições básicas de escoamento nas calçadas do centro?! Não tem uma mera boca-de-leão para ajudar no escoamento da água?!
Corpinho – Boca-de-LEÃO?! De-LEÃO?

M – Asfalta!!! Asfalta toda esta merda! Concordo contigo! E aproveita e já chama o caminhão de asfalto pra me jogar um tonel de piche por cima. Me asfalta junto, pelo amor de Deus!! Me asfalta agora!!!



sexta-feira, 13 de maio de 2011

Pareço calma... mas na minha cabeça já te matei três vezes!

Ele é incrível!
Independente, educado, tem bom humor, é inteligente, leal, usa um perfume maravilhoso, faz piadas politicamente incorretas sem que isso me deixe culpada enquanto rimos, tem um beijo perfeito, juntos temos uma química invejável... ele sabe segurar o meu rosto como se a pessoa mais importante do mundo fosse eu...
Mas ele me irrita profundamente!!



Só por hoje... não quero nunca mais!

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Desilusão ortográfico-amorosa

Há algum tempo troco figurinhas com um amigo sobre nossos desapontamentos de ordem gramatical com o sexo oposto. Sempre me senti à vontade com os amigos. Com eles, parece que posso falar de qualquer assunto sem pensar se vão analisar mensagens subliminares, quando na verdade elas não existem na minha fala. Converso sabendo que não vão reparar se engordei (ok, vão notar, mas por outros motivos), não vão se importar se cortei o cabelo, se fiz minhas luzes, se a cor da minha blusa combina com o tecido do topezinho do meu scarpin... Enfim, ter amigos é bom também para ter a visão do outro. Do outro sexo.
Com esse meu amigo descobri que não estou só em uma de minhas desilusões – sim, são muitas, e daí? Não sei se é motivo de comemoração, mas, aqui entre nós, o fato de não nos sentirmos sozinhos quando estamos na m*** sempre é reconfortante. Atire a primeira brita (de pedra é mais difícil de desviar) quem nunca pensou: “bah, estou f***, mas aquele ali está tão ou mais f*** do que eu”. Eu sei, tenho pensamentos impuros...
Vamos aos fatos. Flerte novo. Independente de como se conheceram, nessa era maldita/bendita da internet, vocês vão trocar MSN e quase aposto meu cotovelo como, a partir desta troca, o “contato” entre vocês será estabelecido primordialmente por esse veículo de comunicação.
Telefone? Não. Isso é muito século XX. Por qual motivo vais querer pagar para ouvir a voz da pessoa, se podes muito bem pensar em silêncio, no teu computador/celular, sozinho? Para que vais ter o gasto de uma ligação se a internet é banda larga e te dá tempo ilimitado para falares com quantas pessoas quiseres simultaneamente? E, melhor ainda, (re)escrevendo sem o compromisso da resposta imediata, podendo escolher qual a melhor imagem aparecerá naquela janelinha de conversa (enquanto, na verdade, tu estás de meias, havaianas, calça de abrigo, um blusão por cima de outro e o cabelo parecendo um ninho de querexexê)?
Muito melhor falar por MSN, não é?
Contato 1:
ViventeOi! Eae, tdo?
Pausa!
“Tudo” o que, meu querido!? Que mania é essa agora que as pessoas pegaram de encurtar o “tudo bem”?! É tão difícil assim formular uma pergunta completa?
Continuando.
Tu – Sim, tudo bem. Chegando agora em kza.
Vivente – Mto canssada p sair hj?
Pausa!
Nessa hora tu pensas “calma, vamos dar uma chance, é um erro comum e talvez ele tenha escrito sem querer”. Vivente tem curso superior, já aprendeu a escrever, então tu apenas repetes a palavrinha com a grafia correta, para ver se ele fica mais atento.
Tu – Olha, até to um pco cansada, mas dependendo...
Vivente – Pois é, queria te ver com aquela bluizinha dinovo... daquele geito... vamu janta?
Vamos combinar: uma coisa é uso de linguagem de MSN, outra coisa é ser formado no Mobral!
Tu – Só se for rapidinho então, ñ queria chegar mto tarde em kza.
Vivente – Ah tb ñ quero ti encomodar se naum der hj, fica pra otro dia.
Respira!
Tu – Ñ incomoda, imagina.
Vivente – Então que hs ti pego?
Tu – Olha, to vendo aqui... acho melhor marcarmos pro findi, pode ser? Prefiro ter mais tempo pra gente ñ se preocupar com horário.
Tradução: hoje não estou com saco para aturar sua total ignorância acerca da existência do Houaiss, ou o seu déficit escolar ocasionado pela Tia Alvaíres da 3ª série, que te passou de ano por pena.
Vivente – Claaaro sem problema falamos na semana.
Tradução: sua vaca fazida!
Tática adotada: talvez ele consiga ser adestrado pelo condicionamento operante, vamos torcer!

Contato 2:
Vivente – Oi linda... tdo?
Tu – Oi, td bem e tu?
Vivente – Tb.
Tu – Novis?
Vivente – Ñ nda mais mto trabalho só por causa que na firma as coisas tão meio corridas. e ae e akela janta?
Pausa!
Por falar em pausa, vírgula e demais “acessórios” de pontuação consistem em artefatos ausentes em muitos teclados mundo afora...
Tu – Tá de pé, vamos combinar.
Vivente – Demoro ta sozinha em kza?
Tu – Não.
Vivente – Passo ae entaum pra genti sai e vê um filme pode ser?
Tu – Ta, pelas 21h.
Vivente – Comcerteza. Ligo quando chegar.
Tática adotada: dar uma chance para ver se ao vivo rende.
Contato 3:
Vivente – Oi, gatinha tdo?
Tu –
Tática adotada: “status ausente”.
Contato 4:
Vivente – Eae sumida...
Tu –
Tática adotada: botão direito do mouse sobre o usuário “Vivente”; seleção da opção “Bloquear contato”. “Se você bloquear este contato ele não poderá conversar com você online nem ver se status online”. Seleção do botão “OK”.

Eu sempre penso, cá com os meus Camões, que beleza atrai, mas inteligência convence.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Páscoa: eu ganho pérolas!

Primeiro de tudo: muiiiito obrigada a todos que passaram por aqui, que deixaram recados, que comentaram comigo sobre o blog, que me transmitiram carinho, enfim, muito agradecida mesmo! Apareçam!


Vamos ao que interessa: o único feriadão do ano - um salve para o monge Dionísio, figura que montou esse calendário maaaravilhoso que temos até hoje, que compreende cinco dias de lida e somente dois de estado vegetativo. Bem, acho que todo mundo pensa na Páscoa como época de viajar, fazer festa, descansar, reunir pessoas e, claaaaro, dar/receber chocolates - tá, pensamos em outras cositas más, mas não vem ao caso agora; abafa e foco!

Com o passar do tempo, vocês já devem ter percebido que a idade é inversamente proporcional ao número de chocolates que ganhamos na Páscoa. Primeiro, termina a história de procurar o ninho: "pega logo aqui a caixa de chocolates da Garoto que eu te comprei por R$5,99 e Feliz Páscoa". Depois, passamos a ganhar chocolatinhos somente das pessoas mais próximas, de um familiar (nessas horas sempre podemos contar com a mãe), de namorado(a), amigos mais próximos, num amigo secreto básico da firrrrrma e por aí vai. A questão é: cresceu, perdeu playboy, perdeu! Se quiser chocolate, vai na venda.

Bem, eu não posso me queixar. Coelhinho da Páscoa deixou de me dar chocolates, mas passou a me presentear com pérolas. Aqui vale a máxima "quem tem amigos, tem tudo". Então, deem (caiu o acento, né?!) licença, mas meu amigo Seu Coelho é podre de chique e me presenteia com pérolas de valor inestimável. Não vou aqui fazer metáforas sobre a amizade, ou sobre o verdadeiro significado da Páscoa, blá blá blá... vou deixar que o vídeo de uma certa Páscoa ocorrida outrora fale por mim.






Um bom feriado a todos!!!

sábado, 16 de abril de 2011

Fresquíssima: sobre o Pouca Prática

Buenas, e me espalho, já diria o Capitão Rodrigo - aquele gostoso!! E falando em homem, resolvi socializar meus pensamentos sobre a tipologia masculina.

Capítulo de hoje: O Pouca Prática

Pouca Prática é boa pinta. Tu encontras ele geralmente na noite. Nas festas onde tem bastante estilo panicat. Tu estás lá, porque afinal de contas é onde a maioria dos amigos quis ir, não tem chinelagem, a música até que passa por umas 2h sem te incomodar muito... e vai que tu achas alguém interessante, vamos ver, não sejamos cabeça fechada... e lá está ele: o Pouca Prática. Alto, bronzeado, cabelos bem penteados, roupitcha ajeitada, sorrisão branco, covinhas... "Opa, hoje o Senhor teve pena da filha aqui!!" tu pensas.
Caminhando ou parado, Pouca Prática tem sempre um copinho de Red+whisky na mão. Vez que outra ele derrama em ti a bebida, pois não tem muita prática com as funções simultâneas pensar/respirar/trovar/segurar copo/sorrir. Mas tá, tu deixas passar, o problema és tu, que não tens paciência, não ele... deixas passar, pegas um guardanapinho, limpa a perninha molhada de Red+whisky  (que vai ficar fedendo a noite toda), matas no peito o momento demônio da Tazmania, e diz "Não foi nada" - sorrindo, lógico. Afinal, Pouca Prática é um tipão. Vamos dar um crédito: moreno, alto, bonito e sensual! O beijo não é lá essas coisas, mas vai que é coisa do dia... não era um bom dia, vamos dar um crédito: Pouca Prática é um tipão!!
Pouca Prática pega teu telefone na noite. No outro dia, quando ele te liga, tu pensas: "opa, esse aí saiu da Paleozoica já. Vamos dar mais um creditozinho". Ele marca de ir te ver, na festa que tu escolheste. Ponto pra ele, vai até lá pra te ver. Avançamos para a Era Mesozoica. Os dias transcorrem, cada um tem seu espaço, afinal é verão. Os encontros vão seguindo com um bom espaço de tempo. Tu, ainda tentando saber se ele pensa tanto quanto se veste bem... a embalagem vai agradando, mas alguma coisiiiiiiinha não bate.
Ele vai te pegar em casa pela primeira vez: Pouca Prática só ouve música eletrônica; no carro, além da boa trilha sonora, ar ligado no menos dez graus centígrados: "frio, quer que eu desligue?", daí tu matas outra no peito, sorri como sempre, respiiiiira e diz "não, tô bem assim", quando na verdade tu queres dizer "sua anta, evidente que tá frio, não tá vendo que tô de pernas de fora, alcinha, decote... tudo pra te agradar, e tu me vem com esse frio do c***". Mas calma, o problema és tu, que não tens paciência, Pouca Prática é um tipão, é gente boa, vamos dar um crédito. Ele vai tentar te comer, fato. Tu não estás no clima ainda. Pouca Prática não gosta. Mas não é um não gostar de um ser humano normal: Pouca Prática pensa que tens obrigação de dar pra ele, afinal, ele é um tipão!! Pouca Prática fica de cara contigo, faz questão de transparecer isso, e pior: tu vais te sentir culpada com tamanha destreza que PP (apelidinho carinhoso) tem em fazer beicinho: vamos admitir, ele fica uma graça fazendo mãnha.
Chegamos à "Noite D". Pouca Prática te convida pra ver um filme - educativo... Com o passar das horas tu vais pensando: "dar ou não dar, eeeeis a questão". "Ah, vamos dar, né?! Não vai adiante mesmo, vamos passar o tempo, o cara é um tipão, vai ser bom". É a Pós-Modernidade.
PP vai com muita sede ao pote. Ele não faz, pergunta o que fazer, nas horas mais impróprias. Ele não te pega, sacode!! Ele pergunta se é pra usar camisinha (e tu fazes um esforço tremendo pra dizer apenas o "sim", quando na verdade tu queres dizer "soca no *** essa merda que eu tô indo embora!"). Ele avisa que vai gozar, quando tu estás no 1/4 do procedimento ainda: "tá, goza logo então, e acaba com essa desgraça!!", é o pensamento. Então tudo termina (ufa!). Segundo tempo: a tortura continua... Pouca Prática repete todos os erros... "É, agoooora entendi o que não se encaixava bem... não era impressão: mulher tem pressentimentos e nunca dá atenção a eles. Mulher é bicho bem burro!!", é o que tu chegas à conclusão, ali ao lado de Pouca Prática, que lógico, diz que gostou muito, e te pergunta: "Tava bom, né?!". Putaqueopareeeeeooo... Era Arqueozoica.
Termina a noite maldita. PP te liga nos dias seguintes, tenta marcar encontros do tipo: "se tu quiser me dar eu vou te ver, caso contrário, tenho compromisso amanhã cedo, daí fica pra depois o nosso encontro", é o que está nas linhas, não nas entrelinhas, pois Pouca Prática não trabalha muito bem com a subjetividade. Termina o verão, vem o Carnaval. Tu e o Pouca Prática fazem um acordo velado: cada um no seu quadrado. Até que uma sábia amiga dá a dica: "essas merda vão tudo incomodá depois do Carnaval!", assim mesmo, com esse refinamento de linguagem. Dito e feito, a amiga letrada sabe das coisas funcionais da vida.
Pouca Prática te liga depois do Carnaval. Te convida pra ver um filme. Tu não aceitas e fazes a contraproposta de um sorvete singelo, pra ver se ele entende o recado. Não, ele fica de cara: "deixa pra próxima então, na semana a gente marca de se ver, quando tu tiver mais tempo"... assim, sutil como Galliano adorando em público o Nazismo. Pouca Prática esfria a cabeça e te liga novamente. Ok, hoje vamos fazer caridade, vamos sair com Pouca Prática: vocês rodam a cidade toda procurando um bar, ele te leva numa bosta de lugar... lógico, não restando mais nada a fazer, vamos ver um filme - educativo. Pouca Prática refaz alguns erros, melhora em outras coisinhas... te faz um elogio até: "nossa, teu cabelo tá comprido, né? É testemunha de Jeová, agora?!".
É, daí tu chegas em casa e vem a derradeira conclusão: "Pouca Prática sou eu, que ainda não virei lésbica!! Senhor, dai-me tesão pelas mulheres, que dos Homo Erectus já tomei machadada que chega!"


"Ah, Senhor, pensando bem: me reverte os créditos que dei ao PP e manda tudo em milhas na fatura deste mês do meu cartão?!"