quarta-feira, 1 de junho de 2011

Pensei bem e... quero ser super-heroína

Percebo alguns anseios gerais entre meus amigos cuja faixa etária equipara-se à minha: sair de casa (se já não saiu), pagar as contas sozinho, ter/manter um carro, subir na profissão, conhecer alguém especial, manter um bom relacionamento, constituir família (com os mais variados tipos de configurações), e, enfim, ter uma vida estável, podendo-se dar ao “luxo” de viajar, comer bem, ir a lugares interessantes, etc. Os anseios variam de ordem de acordo com a classe, os pilas na conta bancária, a vida afetiva... mas, via de regra, fazem parte do pacote básico do ideal de vida feliz.
Certa feita, nesses dias frescos aqui do Sul, algumas amigas e eu conversávamos sobre quem gostaríamos de ser se pudéssemos escolher uma heroína. Tentávamos lembrar os nomes, quando algumas personagens eram mais antiguinhas. Incorporamos os personagens, achamos características físicas umas nas outras para justificar a escolha, analisamos e medimos as utilidades dos poderes, contextualizamos os desenhos em que apareciam, e, por fim, cada qual teve sua heroína eleita. Fácil assim. Questão de uns 20 minutos – depois, outra pauta sentou-se à mesa conosco, naquele ritmo frenético de assuntos femininos que todos nós já sabemos como funciona.
Não entendo o que ocorre na vida real, que a torna tão difícil ante a vida das heroínas: a Shee-ra, por exemplo, era de uma família real e morava em um castelo; mas não era qualquer castelo, era um de cristal – leia-se que não precisava trabalhar, pois tinha grana, mas muita grana mesmo! Mesmo assim, ela trabalhava por gosto, e não escolheu qualquer trabalhinho: ela lutava contra o mal e, em todos os episódios, vencia o Hordak! Ela não ganhou apenas um pônei de seu pai quando era pequena: ela tinha o Ventania. Era dona de uma aparência impecável. Dava-se muito bem com seu primo gay. Todo mundo gostava dela. Podia ter dupla personalidade sem ser considerada uma bipolar. Salvava Ethéria e ainda tinha tempo para fazer as unhas!
Quando eu tinha uns quatro anos, fui personagem de um episódio histórico em família. Caí na piscina e me afoguei – em tempo, essa foi apenas uma das muitas vezes que me afoguei. Vi a morte bem de perto. Não tive medo, não tentei sair da piscina, não me passou um flash da minha breve vidinha na cabeça, não pensei nos entes e nos amiguinhos queridos, nada além do cloro nos pulmões me fazia companhia naquela hora. Salva por um familiar, após chorar, tossir, tomar banho e tentar explicar (em vão) que eu havia escorregado, e não tentado me matar, fiz um pedido bem simples à minha irmã, enquanto ela me secava após o banho: - posso usar uma roupa de Shee-ra? Ela, sem proferir uma palavra sequer, balançou a cabeça positivamente, mas me vestiu com uma roupa qualquer, uma roupa minha mesmo. Vê-se bem que era adepta da terapia do Analista de Bagé, a consanguínea...
Não discuti. Não teimei. Não pedi novamente para ser a Shee-ra. Quem sabe porque, já ali, eu tenha começado a entender que minha vida seria mais fácil se eu não tivesse que salvar um planeta todos os dias. Mas, ainda hoje, penso que talvez eu acharia mais soluções tentando salvar um mundo inteiro, do que tentando construir as coisas simples desse tal pacote da felicidade pra minha própria vida.

Minha fantasia realizada: by Lizandrinha

Um comentário:

  1. Dá-lhe, Shee-ra Costa da Silva :D
    Nem te preocupa amiga, nós já somos "super"...tem alguns momentos que só sendo heroína mesmo....troféu pra gente!!

    Poder da invisibilidade!!! Hoooooooooouuu!!!

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